Saturday, October 07, 2006

O rio e o meu amor
MSAndrade

O rio de minha porta,
Quando cheínho, entornando,
Dá gosto de a gente olhar!
Até desperta paixão!...
Com discrição se comporta
Se,nele, de vez em quando,
Imergimos para amar...
Amar com sofreguidão.

Sua água tépida, morna,
Tocando na nossa pele,
Esfria nossa fogueira
Mas não nos tira o tesão
E dentro de nós, entorna
Força que não se repele,
Como se fosse lareira:
Quentura-fascinação.

Então, se é noite de lua
E uma réstia prateada
Se espelha nas suas águas
De um verde-cinza sem igual,
Minha mão, buscando a sua,
Fica assim entrelaçada.
Esquecemos se houve magoas...
E não se conta o final!...

Tenho sonho tão bonito!
Tenho desejos tão puros!...
Na minha alucinação,
Suplico-lhe: não se vá.
Fique cheínho, infinito...
Mesmo que me deixe em apuros.
Fique, meu rio querido,
Fique, meu Jiquiriçá.
.
POEMA DA MINHA QUERIDA AMIGA MAKA













(Vinícious de Moraes)
Amigos
Do poeta carioca
Vinicius de Morais

Tenho amigos que não sabem o quanto são meus amigos.Não percebem o amor que lhes devoto e a absoluta necessidade que tenho deles.

A amizade é um sentimento
mais nobre do que o amor,eis que permite que o objeto dela se divida em outros afetos, enquanto oamor tem intrínseco o ciúme, que não admite a rivalidade.
E eu poderia suportar, embora não sem dor, quetivessem morrido todos os meus amores, mas enlouqueceria se morressemtodos os meus amigos!
Até mesmo aqueles que não percebem o quanto são meusamigos e o quanto minha vida depende de suas existências ..
A alguns deles não procuro, basta-me saber que eles existem.Esta mera condição me encoraja a seguir em frente pela vida.Mas, porque não os procuro com assiduidade, nãoposso lhes dizer o quanto gosto deles. Eles não iriam acreditar.
Muitos deles estão lendo esta crônica e não sabemque estão incluídos na sagrada relação de meus amigos.Mas é delicioso que eu saiba e sinta que os adoro, embora não declare e não os procure.
E às vezes, quando os procuro, noto que eles não temnoção de como me são necessários, de como são indispensáveis ao meuequilíbrio vital, porque eles fazem parte do mundo que eu, tremulamente,construí e se tornaram alicerces do meu encanto pela vida.
Se um deles morrer, eu ficarei torto para um lado.Se todos eles morrerem, eu desabo!Por isso é que, sem que eles saibam, eu rezo pela vida deles.E me envergonho, porque essa minha prece é, emsíntese, dirigida ao meu bem estar. Ela é, talvez, fruto do meu egoísmo.
Por vezes, mergulho em pensamentos sobre alguns deles.Quando viajo e fico diante de lugares maravilhosos,cai-me alguma lágrima por não estarem junto de mim, compartilhando daquele prazer ...
Se alguma coisa me consome e me envelhece é que aroda furiosa da vida não me permite ter sempre ao meu lado, morandocomigo, andando comigo, falando comigo, vivendo comigo, todos os meusamigos, e, principalmente os que só desconfiam ou talvez nunca vão saberque são meus amigos!
A gente não faz amigos, reconhece-os